Lidar com a dor da alma de uma ovelha, talvez seja para um pastor um dos ofícios mais penosos do sacerdócio! Não raro após uma visita, por mais que tenhamos nos esforçado, é muito doloroso deixar a ovelha envolta numa tristeza sem fim e num sofrimento que parece jamais acabará!
Nesse universo materialista e instantâneo em que estamos vivendo aprender a lidar com o subjetivo e o transcendente tem sido um desafio cada vez maior. Não estou certo da opinião de outras pessoas, mas parece-me que o sentimento de impotência tem sido uma marca na vida daqueles que lidam com os que sofrem de depressão. Obviamente, os profissionais que atuam com pessoas que estão deprimidas pela ausência de algum componente químico no organismo e, ou, herança genética, ou deficiência hormonal obtém sem dúvida nenhuma êxitos maiores.
A dor da alma judia demais e costuma ser devastadora. Ela não tem cor, não tem lado, não tem forma! A enfermidade da alma não se manifesta externamente em forma de um machucado ou de uma cicatriz, mas corrói o interior, devasta o íntimo, aniquila o ânimo e faz desaparecer os sonhos! Não se trata dela com antibióticos de largo espectro, tampouco é possível prescrever um elixir de rápido efeito. A gente tem vontade de tocá-la, pega-la pelas mãos e joga-la para o abismo ou para as profundezas do mar, mas o esforço pessoal é em vão!
Invariavelmente as dores da alma surgem com alguns gatilhos em forma de decepções, incompreensões e perdas, e todos eles envolvem relacionamentos ou a falta deles. Em todos esses gatilhos, salvo raríssimas exceções, há pessoas e laços afetivos muito fortes. Situações como o divórcio, maus tratos e abusos em qualquer nível, morte, casos de dependência química especialmente no âmbito familiar, ou em relacionamentos de grande vínculo afetivo, apresentam-se definitivamente como fatores de sofrimentos desencadeantes de depressão.
Mormente a crueza e a tristeza dos momentos vividos enquanto se está deprimido podemos sim trazermos uma boa notícia para alguém que está passando por esse vale: é que assim como essa dor chegou ela vai passar. É verdade! Assim como não vimos quando ela chegou nós não iremos ver o momento do seu fim! Pode parecer simplista demais, mas é o mais comum: De repente, quando menos se apercebe, para o alívio do coração, aquela dor horrorosa vai embora.
O inteligentíssimo ensaísta e escritor, Rubem Alves, no seu artigo “Alegria e tristeza”, vai dizer algo inquietante e incômodo, mas, ao mesmo tempo, animador e consolador, observe:
“A gente está alegre, não é alegre. Porque esse sentimento não se mantém para sempre. Surge, colore o mundo e some feito bola de sabão. Quando se está triste, bom saber, acontece igualzinho.”
Como é bom esse equilíbrio de sentimentos. Sobretudo, como é bom saber também que o Deus a quem servimos se nos apresenta como Aquele que conhece as nossas dores e as sofreu todas e, apesar de não nos prometer livrar-nos delas, promete-nos estar conosco quando elas aparecerem, vejam:
“Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o SENHOR, teu Deus, o teu Salvador” Isa. 43. 2-3
Se sua alma está doendo tenha um pouquinho de paciência. Essa promessa fora feita por alguém que nunca deixou de cumprir nenhuma sequer! Aproprie-se dela!
Pr. Élio Morais
Obrigada, Pr. Élio Morais. O irmão se distanciou de nós, mas continua compartilhando suas reflexões carregadas de sensibilidade e encorajamento e abençoando-nos por meio delas..
Obrigado amigo, é realmente uma dor que poucos entendem. Me considero um vitorioso através de suas palavras, pois vejo muitos sofrendo calado. É um silêncio que clama que só o amor pode dar a mão. Abraço, saudades.