Uma sociedade que necessita realizar campanhas pela valorização e não discriminação da mulher é uma sociedade que está fora de ordem, perdida, com deformidades seríssimas e que precisa ser objeto de análise daqueles que de alguma forma influenciam outros, introjetam conceitos e formam opiniões.
Uma sociedade em que muitas mulheres ainda são assediadas na rua com fiu fius e nas empresas tratadas como alguém tecnicamente inferior, e no lar, com menosprezo, rigorosamente é uma sociedade que está doente, desafortunadamente carente de bons exemplos e necessitando de um tratamento severo contra a doença sexista e ou machista que leva moças e senhoras a se sentirem inseguras e amedrontadas na vida.
Fazer campanhas a fim de que as mulheres deixem de ser assediadas e discriminadas entendo ser necessário sim, mas, entendo também ser uma medida desesperada numa sociedade que não teve e não tem um planejamento estratégico de investimento no ser humano e no seu futuro como cidadão de bem.
Segundo o escritor batista do século XIX, George Matthew Adams, a frase a pessoa se fez sozinha “…não existe, carece de veracidade. Todos nós somos feitos por outras milhares de pessoas. Cada ser que fez algo de bom para nós, ou nos disse algumas palavras de conforto ou aprovação, influenciou em nossa personalidade e nossos atos. É por isso que elas se transformam em parte de qualquer sucesso nosso.”
Não levar a sério essa asseveração, meu caro leitor, sempre será um verdadeiro “tiro no pé” que qualquer sociedade dará, pois as consequências serão devastadoras, pois se somos feitos da influência das pessoas sobre a nossa vida haveremos de investir na educação das famílias, na escola, no berço e na capacitação das pessoas com o fim de viverem essa vida de forma socializada e em respeito mútuo. Entendo que uma sociedade em que os homens respeitam as mulheres é uma sociedade que investe na educação em todos os níveis.
O leitor poderá perceber que em momento algum eu usei a palavra governo, porque esse investimento extrapola a esfera governamental ainda que o contemple obviamente. Fiz questão de usar a palavra sociedade, porque esta sim contempla a todos.
Ou cada cidadão de bem do nosso país acorda para a necessidade desse investimento, ou o legado que deixaremos para as nossas filhas e netas será muito mais perverso. Ou investimos agora, ou correremos o risco de manter nossas filhas e netas no cárcere de uma malfazeja cultura de discriminação que impõe insegurança e medo!
Como pastor evangélico, batista, eu entendo que a igreja tem um papel preponderante e fundamental nesse quesito. Na igreja temos toda condição e obrigação de combater essa sociedade doente, pois temos na pessoa do Senhor Jesus o exemplo maior em Sua caminhada de salvação de como deve ser tratada uma mulher mesmo aquela que está vestida indecentemente ou praticando atos indecentes, que o diga a mulher adúltera, e que atirem a primeira pedra aqueles que não concordarem com o maravilhoso ensino e lição que o Senhor Jesus deu nesse episódio com ela.
Como homem casado e pai de três filhos, mesmo reconhecendo a minha fragilidade, imperfeição e incompetência, posso dizer que serei um indesculpável se não tratar bem minha esposa e não valorizar qualquer mulher, porque fui extremamente privilegiado e é por isso defendo a educação em nossa sociedade deformada; e vou lhes dizer por que sou um privilegiado, e me perdoe a referência pessoal:
Nasci num lar em que o meu pai foi o primeiro namorado de minha mãe e vice versa, e isso inclui o primeiro beijo, os primeiros afagos e, obviamente, a primeira noite de amor somente após o casamento. Jamais vi uma briga entre eles, não porque eles não tivessem suas dificuldades, mas porque eles as resolviam no quarto com boas conversas certamente, e assim se preservavam e aos filhos também.
Sou privilegiado porque cresci num lar em que não me lembro de um dia em que meu pai tenha se levantado da mesa após uma refeição e não tenha agradecido a minha querida mãe, a gostosa refeição servida, mesmo que tenha sido um arrozinho com feijão com uma saladinha de tomate. Cresci num lar em que frequentemente via meu pai elogiando a minha mãe mesmo quando ela estava vestida com um vestidinho dos mais simples, mas não lhe faltava aquele: – Como você está bonita, vai a algum lugar? Cresci num lar onde ver os meus pais sorrindo, mormente as dores e tribulações da vida, era algum muito comum e em cada vez que eu via me sentia muuuuuito feliz, afinal, as pessoas que eu mais amava estavam sorrindo e isso me dava muita segurança – estava tudo em paz! Sou um privilegiado também porque vi meu pai e minha mãe completarem 56 anos de vida conjugal. Vida intensa, de cumplicidade, de harmonia e de extremo respeito.
Como cidadãos temos a obrigação moral e legal de investirmos de tal forma uns nos outros com o fim de tornar os homens de tal maneira indesculpáveis que quando houver uma atitude de assédio e discriminação da mulher isso seja visto como uma violência e considerado uma anomalia, uma aberração e não algo corriqueiro que chegue ao ponto de atribuir culpa à própria mulher, seja pela forma de vestir, seja pela forma de proceder – o assédio e discriminação à mulher é deselegante, é imoral, é ilegal e precisa ser enfrentado com responsabilidade e cidadania por todos!
Que o Senhor nos ajude a agir com graça, misericórdia e com justiça nessa questão tão fundamentalmente importante da nossa sociedade chamada pós-moderna e globalizada. Amém.
Pr. Élio Morais
Que texto maravilhoso mano. Muito oportuno e com verdades profundas.
Deus continue lhe abençoando com palavras sábias.
Abraço Elinho.