Tenho pensado muito sobre aqueles que não conseguem colocar limites naquilo que querem na vida!
Ao longo do tempo conheci algumas pessoas que, definitivamente, não conseguiram descobrir que chegaram infinitamente mais longe do lugar aonde jamais imaginariam chegar! Pessoas que, num passado não muito remoto, achariam maravilhoso e dariam por satisfeitas se chegassem a um milésimo da onde chegaram, mas, que, ao chegarem, não se aperceberam, e aquilo que fora impensável e inatingível tornara-se insignificante e desprezível!
Infelizmente, para o homem natural, esse estado de cegueira jamais terá fim, porquanto a Palavra de Deus afirma, categoricamente, o seguinte:
“O inferno e o abismo nunca se fartam, e os olhos do homem nunca se satisfazem.” Prov. 27.20.
O homem natural é um ser insaciável, constantemente insatisfeito com Deus, com o próximo e consigo. É um ser que está sempre querendo mais, sempre querendo o reconhecimento, o poder, a glória e a honra. Sempre querendo mais um dígito em sua conta bancária, mais um diploma na parede, e sempre querendo chegar ao topo de um lugar que, na maioria das vezes, ele nem sabe onde é, e dificilmente se aperceberá ao chegar.
Que os olhos do homem nunca se satisfazem não deveria ser segredo especialmente para aqueles que creem, conhecem a Palavra, e andam por ela! Por conhecermos a Palavra, esse laço maligno da insatisfação não deveria nos amarrar. Por conhecermos a Palavra, essa “esparrela” da insatisfação deveria encontrar em nós uma maior resistência, porquanto somos novas criaturas, lavadas, redimidas e regeneradas pelo sangue do Cordeiro!
Mas por que, então, tantos caem nessa armadilha nefasta? Por que, então, tem sido cada vez mais comum encontrarmos pessoas que não lidam bem com os seus desejos, sonhos e aspirações?
Entendo que o motivo seja a ignorância a respeito da incapacidade do homem natural de aceitar os limites impostos pelo Seu criador! Babel que o diga! (Gen. 11.4) Ali, na construção daquela torre, temos o primeiro exemplo da total volúpia do homem natural e do seu desejo de chegar a lugares antes inimagináveis!
Quando não sabemos colocar limites aos nossos desejos, alvos e sonhos, pelo menos duas coisas aparecem como resultados ou características das nossas extravagancias: Ou somos extremamente REBELDES, ou somos extremamente INGRATOS, ou o que é pior, somos as duas coisas!
Esse homem natural e insaciável é um REBELDE por natureza, porque o desejo de ser igual a Deus ficou intrinsecamente ligado a ele após a queda! Desde então ele deseja ser conhecedor do bem e do mal, ele deseja tornar célebre o seu nome! Esse homem decaído é orgulhoso, pensa demasiadamente a respeito dele mesmo, e não coloca limite aonde quer chegar, porquanto limite jamais fará parte da vida de alguém cujos olhos nunca se fartam!
Esse homem natural e insaciável, por ser insatisfeito com o que tem, é também um INGRATO e jamais reconhecerá o favor do Criador!
Em uma de suas fábulas, Esopo, um grande sábio da antiguidade, 620 (a.C), conta a seguinte história de um cachorro insatisfeito:
“Um cachorro, que carregava na boca um pedaço de carne, ao cruzar uma ponte sobre um riacho, de repente, vê sua imagem refletida na água. Diante disso, ele logo imagina que se trata de outro cachorro, com um pedaço de carne maior que o seu. Ele não pensa duas vezes, deixando cair no riacho o pedaço que carrega, e ferozmente se lançando sobre o animal refletido na água.”
Pessoas insaciáveis, descontentes e insatisfeitas vivem presas às agruras do passado, jamais desfrutam do presente e, tampouco, vislumbram possíveis bênçãos do futuro, porquanto seus olhos estão fixos naquilo que não possuem.
Podemos afirmar com toda a certeza que jamais um homem insaciável reconhecerá que já tem o bastante! Alguém disse com muita propriedade que “…quem tem muito precisa de muito! E quem tem pouco precisa de pouco!” E outra pessoa disse também que “Rico é aquele que é satisfeito!” Há muita sabedoria nessas palavras!
Ao escrever esse artigo não pude deixar de pensar no grande apóstolo Paulo, o maior pregador dos gentios, um intelectual maravilhoso, um homem inteligentíssimo, membro das mais altas cortes, o maior escritor bíblico, que disse o seguinte:
“…aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.” Fp. 4.11
Duro de aceitar, mas extremamente necessário dizer: Não se nasce satisfeito, nasce-se insaciável! Justamente, e por esse motivo, o apóstolo disse que teve que APRENDER a viver contente em toda e qualquer situação, e precisamos aprender com ele também!
Precisamos aprender que não somos mais os mesmos! Que não somos mais cidadãos deste mundo! Que o mundo passa e também as suas concupiscências! Precisamos aprender que, agora, como novas criaturas, temos toda condição possível para mortificarmos o velho homem e a sua natureza pecaminosa! Precisamos aprender, agora, que o os nossos inimigos antigos, o mundo, a carne e o diabo, não tem mais domínio sobre nós!
Positivamente, precisamos aprender que quando fomos alcançados pelo Senhor Jesus, “a pérola de grande valor” (Mt. 13.46), fomos enriquecidos nEle e por Ele! Fomos feitos novas criaturas e aqueles que outrora nasceram do pecado, agora são nascidos do Senhor Jesus e alcançados com a Sua suficiência! É por isso que Ele mesmo vai dizer em alto e bom tom:
“Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” Jo. 4.14
Precisamos agir como agiu aquele grande mercador, da parábola que o Senhor Jesus mesmo contou, que ao reconhecer a GRANDE PÉROLA vendeu tudo, abandonou tudo, e concentrou os seus olhos e o seu coração no seu maior tesouro!
Somente agindo assim colocaremos limites naquilo que queremos para as nossas vidas e assumiremos a maravilhosa postura do apóstolo Paulo, quando disse:
“Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.” Fp. 3. 8-11
Que o Senhor Jesus nos abençoe!
Pr. Élio Morais