Nesses dias estou meditando na epístola de Judas, irmão de Tiago, e meio irmão de Jesus. Todos deveriam meditar nesta carta, que tem apenas um capítulo e vinte e cinco versículos.
O autor fala essencialmente do homem sem Deus, do homem natural, do homem totalmente desprovido de qualquer capacidade que o leve a se interessar pelas coisas do Senhor.
Esse homem, segundo Judas, “…..é como nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre.” (vs. 12 e 13)
Pensando na incompletude do ser, esse homem é alguém que não é. Ele é um ensimesmado reinando de um trono que ele mesmo criou, de um reino que ele não tem, para governar algo que não pode. Ele não tem as rédeas de si mesmo. Ele não tem um freio que lhe proteja. É fera desgovernada, perigosa, impulsionado por sentimentos sem nenhuma nobreza.
Ao ser entregue a si mesmo, por Deus, esse homem vagueia por oceanos profundos de uma razão que ele desconhece, de um raciocínio sem parâmetro, de conceitos sem fundamentos, que o levará a decisões desconexas, sem base solida, e desprovidas de qualquer motivo construtivo.
Nessa convivência conflituosa, doída e confusa do ser incompleto, destituído da imanência e transcendência que lhe faltam, justamente os desdobramentos desta incompletude poderão levá-lo ao reconhecimento de que o abismo que tem no coração, traduzido em um grande vazio, tem exatamente tamanho e dimensões do Deus do qual jamais deveria ter perdido o vínculo e a comunhão.
Neste descobrimento libertador, esse ser incompleto imerge numa viagem sem precedentes. Numa viagem dos sonhos. Numa viagem que durará para sempre e sempre será recheada das melhores surpresas, cores, sons e imagens: Ele é alcançado por Deus. É Adão voltando ao paraíso. É a criatura voltando ao Criador. É a fera voltando a ser homem. É o pródigo voltando ao lar. É Jacó se transformando em Israel.
É o fim da escuridão e das nulidades. É o raiar de um novo dia.
É Abel e não Caim. É Ló e não Sodoma. É a pureza no lugar da promiscuidade. É Paulo e não Saulo. É o cair do cavalo na estrada de Damasco. É Epafrodito e não Diótrefes nem tampouco Alexandre, o latoeiro. É vida e não morte. É Espírito e não carne. É salvação e não perdição. É o fim da tirania e da escravidão.
Reconhecer a condição decaída do homem natural, e sua total impossibilidade de se achegar a Deus, contrastando com o que ele pode se transformar ao ser alcançado com o Evangelho deve motivar todo cristão a se engajar no precioso ofício da proclamação das boas novas. Reconhecer isso talvez seja justamente o item faltante que disparará o gatilho motivador do envolvimento com a pregação.
O homem natural não pode morrer nos seus delitos e pecados – isso seria o fim, isso desencadearia na temida segunda morte. O homem natural precisa sair desse estado que o deixa absolutamente separado de Deus. Há esperança para ele – o Evangelho, que é o poder de Deus para salvação de todo o que crê.
Que o Senhor nos desafie!
Pr. Élio Morais
Reflexão preciosa e oportuna.
Às vezes a sociedade nos critica achando que os crentes vão à igreja e buscam a Deus porque “se acham bons e melhores que os outros”, mas na verdade os crentes apenas reconhecem que necessitam de Deus. Quando me dizem isso eu respondo assim:
“vou à igreja e me aproximo de Deus porque reconheço que em mim não há nada bom, reconheço que distante de Deus eu apodreço, e perco o freio para o mal, e distante de Deus estou condenado ao inferno”
Louvado seja o Senhor por sua misericórdia em nos conceder coração novo e vida eterna, mediante a fé em Cristo Jesus.
Abraços meu pastor.
Isso mesmo, querido Claudio. Aliás, vale dizer, que uma das características do homem maduro espiritualmente é o reconhecimento do potencial que ele tem para as coisas erradas, se não andar constantemente na dependência do Senhor.