“Ao entrar a arca do SENHOR na Cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela e, vendo ao rei Davi, que ia saltando e dançando diante do SENHOR, o desprezou no seu coração. 20 Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele e lhe disse: Que bela figura fez o rei de Israel, descobrindo-se, hoje, aos olhos das servas de seus servos, como, sem pudor, se descobre um vadio qualquer! II Sam. 6. 12-21
Davi deseja restaurar o culto em Israel, coisa que há muito ninguém fazia porque a Arca da Aliança, que simbolizava a presença e o poder de Deus, havia sido levada de Jerusalém. Numa incursão exitosa eles recuperam a Arca e retornam tomados por uma enorme felicidade e grande regozijo para Sião, porquanto, finalmente, será possível adorar a Deus – Ele se fará presente
Esse foi um dia muitíssimo especial pra Davi. Somente quem lê e se aprofunda nos salmos que ele escreveu terá um pouco da dimensão da alegria que ele estava sentindo em restaurar o culto em Jerusalém. Mas o que deveria terminar numa grande festa em família acabou terminando numa tragédia, porque o texto diz que Mical, sua esposa, além de não adorar ao Senhor como o seu marido estava fazendo, ainda o reprova severamente por fazê-lo.
Davi estava tremendamente alegre com a restauração do Culto ao Senhor, mas sua esposa Mical não. A Bíblia diz que ela contemplava de longe e o reprovava. A Bíblia diz que ela o via da janela do palácio e o desprezava no seu coração. Ela não somente deixava de adorar ao Senhor, mas, também, desprezava quem o fazia.
Trago esse assunto neste artigo, porque não é muito improvável que isso esteja acontecendo conosco ou com pessoas muito próximas de nós. Infelizmente não tem sido difícil encontrar pessoas que não somente não tem prazer na adoração a Deus, mas ainda reprovam aqueles que assim procedem e precisamos aprender um pouco sobre essa atitude de Mical.
Eu dei o título a esse artigo QUANDO A AMARGURA DA ALMA TOMA CONTA DO NOSSO CORAÇÃO E IMPEDE A NOSSA ADORAÇÃO, porque entendo que Mical agiu desse jeito porque estava profundamente amargurada. Eu entendo que ela reprova e despreza Davi porque está infeliz até a tampa. Ela não se empolga nem um pouco com alegria do seu marido, porque não há espaço para regozijo em seu coração, porquanto a amargura tomou conta de tudo e eu gostaria de trazer alguns possíveis motivos pelos quais Mical não adorou ao Senhor naquele momento tão importante:
O PRIMEIRO POSSÍVEL MOTIVO FOI PORQUE TALVEZ ELA ESTIVESSE COM RAIVA DO SENHOR
Isso de jeito nenhum é algo improvável, porque não tem sido incomum vermos pessoas atribuindo responsabilidades a Deus pelos dissabores da vida. Muita coisa ruim aconteceu com Mical e ela pode ter feito uma leitura totalmente equivocada de tudo e pode sim estar culpando Deus por muita coisa.
Mical viu o seu pai perseguir ao seu marido ferozmente ao ponto dela mesmo ter que protegê-lo. Ela viu seu marido ter que fugir igual a um bandido e se enfurnar em cavernas e até mesmo morar com os piores inimigos. Mical se viu obrigada a abrir mão da convivência com o marido que tanto amava e casar-se com outro por obrigação do pai. Ela viu sua família ser dizimada de uma única vez – seus três irmãos sendo mortos e o pai suicidando. Mical viu o seu segundo marido chorando quando Davi, agora rei, manda busca-la de volta.
É inegável a quantidade e o histórico de lembranças ruins que Mical trazia em sua bagagem de volta para o palácio, e é fato: a vida não tem sido justa com uma multidão de pessoas, mas, definitivamente, nada disso foi culpa de Deus, porque Ele é bom e a sua misericórdia dura para sempre.
Especialmente nessa época hedonista, em que o homem se acha cada vez mais merecedor das boas dádivas do Senhor, e foca os seus olhos cada vez mais nas suas próprias necessidades, culpar Deus por coisas ruins que lhes acontecem pode ser um excelente lenitivo e eximi-los de grandes responsabilidades.
Faltou a Mical algo que jamais poderá faltar em nós quando estivermos passando por grandes lutas: não desassociar Deus dos percalços e das agruras da vida. Faltou a Mical, ao invés de culpar Deus de tudo ruim que lhe acontecia, depender dEle para sobreviver bem e continuar tendo alegria na adoração. Faltaram a Mical, rigorosamente, os olhos da fé para contemplar a face do Senhor, seu bom pastor, nos momentos angustiosos do vale da sombra da morte, como Davi, seu marido, lindamente o fizera ao escrever o maravilhoso Salmo 23!
Faltou a Mical a atitude que jamais faltou a Davi, que nunca teve uma vida fácil e isenta de grandes problemas, mas pôde dizer assim no Salmo 131:
“1 SENHOR, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. 2 Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo. 3 Espera, ó Israel, no SENHOR, desde agora e para sempre.”
Em segundo lugar, MICAL PODE TER DESPREZADO AO SEU MARIDO DAVI E NÃO TER ADORADO AO SENHOR PORQUE A AMARGURA DO SEU CORAÇÃO ERA MAIOR DO QUE A SUA CAPACIDADE DE PERDOAR AQUELES QUE ERRARAM COM ELA NO PASSADO.
Faz todo sentido pensarmos isso dela, porque quando estamos com os nossos corações endurecidos de amargura e não perdoamos aqueles que nos machucaram, então, jamais haverá espaço para o louvor e adoração em nós, porquanto nossa boca sempre falara aquilo do qual está cheio o nosso coração.
Há muitas pessoas que não adoram porque na adoração precisaremos verbalizar a nossa satisfação com Deus e a alegria que sentimos por tê-lo como o nosso maior tesouro, o nosso bem mais precioso! Não foi isso que o nosso poeta contemporâneo Asaph Borba cantou em uma de suas belas composições?
O meu louvor é fruto do meu amor por Ti, Jesus, de lábios que confessam o Teu nome; É fruto de Tua graça e da paz que encontro em Ti e do Teu espírito que habita em mim, que habita em mim.
Ainda que as trevas venham me cercar, ainda que os montes desabem sobre mim, meus lábios não se fecharão, pra sempre hei de Te louvar!
Ainda que cadeias venham me prender, ainda que os homens se levantem contra mim, meus lábios não se fecharão, pra sempre hei de Te louvar!
Se for ressentimento, amargura e rancor que tenho no meu coração eu não somente não vou adorar ao Senhor, mas reprovarei os que assim fizerem, pois como adorarei ao Deus que é puro perdão, um Deus que todo o seu relacionamento conosco se baseia na maravilhosa atitude do perdão, se o mesmo não se encontra em meu coração?
Pobre Mical, eu consigo imaginá-la na soleira daquela janela sendo consumida pela amargura e pela falta de perdão, olhando longe, divagando, desprezando Davi e dizendo-lhe!
– Você não tem coisas mais importantes pra fazer do que ficar com essa presepada toda aí no meio dos plebeus, não? Você não deveria estar traçando estratégias para governar a nação que você acabou de ser ungido rei, não? Você não acha que está começando errado o seu reinado, não?
Tudo isso porque mais uma vez falta-lhe a atitude do também sofrido Davi, seu marido, que preferiu dizer assim para Deus:
“Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário.” Salmo 51.
Por fim, O TERCEIRO POSSÍVEL MOTIVO que sugiro é:
MICAL PODE TER DESPREZADO AO SEU MARIDO DAVI E NÃO TER ADORADO AO SENHOR PORQUE A AMARGURA DO SEU CORAÇÃO ERA MAIOR DO QUE A SUA CAPACIDADE DE PERDOAR A SI MESMA
Quantas pessoas estão amarguradas de alma e sem condição de adorar ao senhor porque não se perdoam! Quantas pessoas estão presas aos erros que cometeram no passado, não esquecem, não se perdoam e não conseguem avançar com uma vida de qualidade simplesmente porque os vagões pesados das lembranças ruins as impedem de seguir em frente.
A Bíblia não nos diz quais foram os possíveis erros que Mical tenha cometido e que precisava esquecer para poder se perdoar, mas é possível que ela estivesse olhando sempre para trás e somente pensando nas coisas que poderia ter feito diferente, mas não fez.
Ficar lamentando o que não se fez jamais mudará o nosso coração para o que teremos de fazer no futuro. No máximo, Mical deveria simplesmente tirar lições saudáveis que cooperariam com suas ações no porvir, pois jamais ao chorar o leite derramado alguém conseguiu avançar de forma positiva e saudável rumo ao futuro!
Mas se a Bíblia não nos fala a respeito de possíveis atitudes que Mical não se perdoava, por outro lado as Escrituras nos falam sobre algumas coisas que Davi fez que Mical poderia ter feito, e que nós, pela graça de Deus podemos aprender e fazer a partir de hoje:
No Salmo 32, ele disse assim:
“5 Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado. 6 Sendo assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder encontrar-te. Com efeito, quando transbordarem muitas águas, não o atingirão. 7 Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento.”
E no Salmo 51, ele disse assim:
“1 Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. 2 Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. 3 Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. 4 Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar.”
Eu estou absolutamente certo de que muitos de nós podemos entrar numa igreja onde está acontecendo um culto maravilhoso e definitivamente sairmos de lá sem ter visto nenhuma beleza no culto e sem ter tido nenhum prazer na adoração a Deus, que era o objeto do culto!
Infelizmente, todos nós estamos sujeitos a isso e precisamos cuidar da nossa mente e do nosso coração para que tal não suceda, para que sejamos de fato verdadeiros adoradores que possam adorar a Deus na beleza da Sua santidade, como diz a Palavra!
Provavelmente o grande vilão da adoração legítima ao Senhor seja a amargura da alma resultante das lutas pelas quais todos passam. Se desassociarmos o Senhor das lutas que estivermos enfrentando, se formos daqueles que definitivamente não veem, ou não dependem do Senhor nas grandes lutas da vida, então eu posso assegurar-lhe: Nós não teremos mente e coração para adorá-Lo!
Se não cuidarmos dos nossos corações corremos um risco enorme de fixarmos os nossos olhos nas nossas lutas e nas lutas dos outros e não encontraremos ânimo para adorar ao Deus que é o todo poderoso, mas que não livrou os seus filhos do sofrimento! Nós não teremos fé suficiente para adorar ao Senhor simplesmente pelo que Ele é, pela salvação que Ele já nos deu, e pelo seu amor maravilhoso!
Pobre Mical, sua vida não foi fácil e, ainda assim, ela prosseguiu pelo caminho pais difícil e tenebroso: o da amargura e do ressentimento, que definitivamente impedem a nossa verdadeira adoração.
Aprendamos!
Pr. Élio Morais
Excelente advertência. A nossa adoração deve partir do coração, em espírito e em verdade, mesmo quando as pessoas ou as circunstâncias queiram nos impedir.
Abraço, amigo!