A precipitação e o agir sem pensar talvez sejam uma das causas das maiores tragédias em qualquer época no mundo! Muitas famílias ficaram destroçadas por conta de alguém que agiu impensadamente! Muita gente sofre as consequências de alguém que age impulsivamente, pois quem age sem pensar, infelizmente, age como um bruto sem razão, como se um animal fosse, e estará fazendo algo totalmente desprovido de raciocínio o que, invariavelmente, provoca desdobramentos inimagináveis!
Friedrich Nietzsche, no seu Crepúsculo dos Ídolos, vai dizer algo tremendo sobre a precipitação e o agir sem pensar, veja:
“Raras vezes se incorre numa só precipitação. Na primeira vai-se sempre longe de mais alguma. Precisamente por isso se costuma incorrer logo numa segunda – e desta vez fica-se demasiado perto.”
No Velho Testamento encontramos dezenas de tragédias e dramas familiares dos mais diversos. Neste ensaio trago a história de Jacó e sua única filha, Diná; Siquém, um jovem príncipe cananeu, e o seu pai, Hamor; Simeão e Levi, dois filhos de Jacó. Essa história começa assim:
“Voltando de Padã-Arã, chegou Jacó são e salvo à cidade de Siquém, que está na terra de Canaã; e armou a sua tenda junto da cidade. A parte do campo, onde armara a sua tenda, ele a comprou dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro. E levantou ali um altar e lhe chamou Deus, o Deus de Israel. Ora, Diná, filha que Lia dera à luz a Jacó, saiu para ver as filhas da terra. Viu-a Siquém, filho do heveu Hamor, que era príncipe daquela terra, e, tomando-a, a possuiu e assim a violentou.” Gên. 34. 1-2
Pensando sobre as tragédias resultantes da precipitação, trago-lhe uma sequência incrível de coisas erradas, verdadeiras trapalhadas mesmo, que as pessoas cometeram nesta trágica história e, todas elas, de uma forma ou de outra, fruto do agir sem pensar!
A PRIMEIRA DELAS, sem dúvida nenhuma, foi a PRECIPITAÇÃO DE JACÓ em construir uma casa num lugar onde ele sequer deveria armar uma tenda.
Se observarmos o contexto anterior dessa história, veremos que após o seu encontro com o Senhor, na gloriosa visão da escada (Gen. 28), Jacó prometeu que se voltasse em segurança fixaria residência naquele local da visão, Betel, e ali construiria a casa de Deus. Mas não foi isso que ele fez.
A gente não sabe ao certo o que aconteceu, nem o que foi que ele viu na cidade de Siquém. É possível que ele tenha se deslumbrado com alguma coisa ali daquele lugar, mas o fato é que segundo a Palavra, Jacó fixou residência entre os cananeus. Jacó se precipitara e isso vai lhe custar muitíssimo caro, pois Deus nunca abençoou alguém que tenha se estabelecido num lugar aonde não fora designado por Ele.
Ao atentarmos para a Bíblia observaremos que a visão que Deus dera a Jacó foi de que o lugar da bênção seria Betel, e que ele deveria retornar imediatamente depois de ter encontrado aquela que seria a sua esposa, veja:
“Eu sou o Deus de Betel, onde ungiste uma coluna, onde me fizeste um voto; levanta-te agora, sai desta terra e volta para a terra de tua parentela”. Gên. 31. 13
O fato é que nunca um servo de Deus logrará êxito ao permanecer num lugar aonde o Senhor não designou – que o diga Jonas quando fugiu para Társis, ao invés de obedecer ao Senhor e ir para Nínive!
Jacó estava dando um rumo errado à sua vida justamente depois de ter sido tão abençoado por Deus no Vale de Jaboque, ali em Peniel, aonde ele vira o Senhor face a face! E o que é mais interessante e me causa espécie é o que Jacó vai fazer imediatamente ao se estabelecer ali, veja:
“E levantou ali um altar e lhe chamou Deus, o Deus de Israel”.
Acho incrível isso! É impressionante como as pessoas tem a tendência de prestar culto a Deus numa maneira inequívoca de encobrirem o que estão fazendo de errado! Jacó tinha que saber que Deus jamais o abençoaria ali, mesmo tendo levantado um altar e prestado culto a Ele, pois está absolutamente claro que o culto seria inaceitável, pois aquele que adorava era o mesmo que desobedecia!
A SEGUNDA COISA ERRADA que eu vejo nessa história foi a precipitação de Diná, filha única de Jacó, em sair num meio de um povo absolutamente idólatra para conhecer suas futuras “coleguinhas”, veja:
“Ora, Diná, filha que Lia dera à luz a Jacó, saiu para ver as filhas da terra.”
É loucura agir precipitadamente! É loucura agir sem pensar! Sempre será prudente e absolutamente necessário pensar antes de se fazer qualquer coisa! Sempre será de muitíssimo bom alvitre pensar e avaliar prós e contras antes de se ter familiaridade com pessoas não muito bem recomendadas e que muito provavelmente não acrescentarão nada de bom nos relacionamentos! Há de ser seletivo! Há de se olhar de longe primeiro! Diná deveria ter considerado o fato de que estava em terra estranha, no meio de um povo incircunciso, que não temia a Deus, cujos valores eram antagônicos aos dela!
Quando nos aproximamos de pessoas que não tem boa recomendação e que declaradamente não querem saber nada de Deus, não poderemos nos surpreender caso algumas delas adotem práticas do inimigo de Deus, pois as Escrituras nos antecipam que o mundo jaz no maligno, infelizmente!
E então algo terrível acontece: o playboyzinho Siquém se sente tremendamente atraído por Diná e faz a TERCEIRA COISA ERRADA dessa história: Siquém se precipita em dar vazão aos seus apetites carnais como se fosse um bruto totalmente irracional:
“Viu-a Siquém, filho do heveu Hamor, que era príncipe daquela terra, e, tomando-a, a possuiu e assim a violentou.”
Siquém era um príncipe de um povo nenhum pouco recomendável! Os cananeus eram extremamente idólatras e definitivamente não se importavam com o Deus de Israel! Eles habitavam as terras que o Senhor prometera a Israel, e a Bíblia os descreve como um povo sem o menor temor a Deus – definitivamente um povo iníquo e profano!
Jacó, como diz a Bíblia, chega ali, compra um pedaço de terra, e ali constrói sua casa! O pai do jovem Siquém, Hamor, era dono de todas aquelas propriedades e, muito provavelmente, Siquém deveria ser um playboy da sua época, um desses que acham que podem fazer qualquer coisa e que tudo vai sempre terminar bem, afinal, pelo jeito, desde que o mundo é mundo algumas pessoas tem tido a ideia de que ter dinheiro sempre significará viver impunemente!
Siquém, como se fosse um animal, violenta Diná tratando-a como um objeto absolutamente descartável. Quanta loucura nessa atitude! Como o ser humano consegue ser tão desprezível! Como uma pessoa sem depender de Deus poderá ser capaz de fazer as coisas mais sórdidas, mais cruéis, mais desprezíveis! Mas o fato é que o que Siquém fez serve para nos lembrar do que o apóstolo Paulo disse em sua Carta aos Romanos, no capítulo 1, versos 28 ao 32, vejam:
“E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.”
E pensar, caro leitor, que Siquém poderia ter conseguido pelas vias normais e legais casar-se tranquilamente com Diná! Mas ele errou feio e vai pagar caro por ter agido segundo os seus instintos mais baixos!
E depois dessa atitude horrorosa de Siquém o que nós vemos é uma sucessão de erros e trapalhadas que vão terminar muitíssimo mal, e aí nós aprendemos algumas coisas importantíssimas:
É MUITO PERIGOSO NÃO SE ARREPENDER DO QUE SE FEZ DE ERRADO!
“Sua alma se apegou a Diná, filha de Jacó, e amou a jovem, e falou-lhe ao coração. Então, disse Siquém a Hamor, seu pai: Consegue-me esta jovem para esposa.”
Em momento algum se percebe arrependimento no coração de Siquém, pois no lugar de um coração arrependido, eu vejo sim, um coração obstinado em permanecer no erro, pois Siquém ainda vai pedir ao pai que consiga Diná para ele como se consegue um objeto que está exposto numa vitrine para ser comprado.
É MUITO PERIGOSO SE ESQUECER DE UMA OFENSA PRATICADA OU DESCONHECER O MAL QUE SE FEZ A ALGUÉM!
Parece que o jovem príncipe era tão imaturo que não tinha muito a ideia da dimensão do mal que fez à Diná e a sua família! Siquém se esquece da humilhação que causou a todos e, juntamente com o pai, vai fazer uma proposta para Jacó e os seus filhos como se nada tivesse acontecido!
“E saiu Hamor, pai de Siquém, para falar com Jacó. Vindo os filhos de Jacó do campo e ouvindo o que acontecera, indignaram-se e muito se iraram, pois Siquém praticara um desatino em Israel, violentando a filha de Jacó, o que se não devia fazer”.
É MUITO PERIGOSO SE ASSOCIAR COM PESSOAS QUE VOCÊ PREJUDICOU, SEM TER ACERTADO AS CONTAS COM ELAS
Mais uma vez aqui vemos a imaturidade de toda essa gente, pois eles se associam com a família de Jacó e isso será a concretização da ruína deles:
“Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um a sua espada, entraram inesperadamente na cidade e mataram os homens todos. Passaram também ao fio da espada a Hamor e a seu filho Siquém; tomaram a Diná da casa de Siquém e saíram. Sobrevieram os filhos de Jacó aos mortos e saquearam a cidade, porque sua irmã fora violentada. Levaram deles os rebanhos, os bois, os jumentos e o que havia na cidade e no campo; todos os seus bens, e todos os seus meninos, e as suas mulheres levaram cativos e pilharam tudo o que havia nas casas. Então, disse Jacó a Simeão e a Levi: Vós me afligistes e me fizestes odioso entre os moradores desta terra, entre os cananeus e os ferezeus; sendo nós pouca gente, reunir-se-ão contra mim, e serei destruído, eu e minha casa. Responderam: Abusaria ele de nossa irmã, como se fosse prostituta”?
É MUITO TRISTE O ESPÍRITO VINGATIVO E O FAZER JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS
Os filhos de Jacó tornaram-se assassinos e tiveram que conviver com os traumas decorrentes dessa ação tão odiosa e, digno de registro, é a atitude de reprovação do próprio Jacó frente à ação extremada e sem propósito dos seus filhos.
Concluindo esse artigo, dentre as muitas lições que tiramos dessa história, uma extremamente significativa, de grande importância mesmo, é que dois três ou quatro erros jamais farão um acerto. Aprendemos com essa tragédia, que o que começa errado poderá terminar mais errado ainda quando não damos a solução certa!
Quero finalizar com três versículos bíblicos muitíssimos preciosos, do Livro dos Provérbios, que nos dizem:
“O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura”. 14. 29
“Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado”. 19. 02
“Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há para o insensato do que para ele”. 29.20
Fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Somos seres inteligentes e dotados de capacidades tremendas para agir com sabedoria. Que o Senhor nos livre da loucura das ações precipitadas! Amém.
Pr. Élio Morais